terça-feira, 4 de agosto de 2009

Metade


Que a força do medo que tenho

não me impeça de ver o que anseio

que a morte de tudo em que acredito

não me tape os ouvidos e a boca

porque metade de mim

é o que eu grito mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe

seja linda ainda que tristeza

que a mulher que amo

seja pra sempre amada

mesmo que distante

porque metade de mim é partida

mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo

não sejam ouvidas como prece

e nem repetidas com fervor

apenas respeitadas como a única coisa

que resta a um homem inundado de sentimentos

porque metade de mim

é o que ouç omas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora

se transforme na calma e na paz que eu mereço

e que essa tensão que me corrói por dentro

seja um dia recompensada porque metade de mim

é o que penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste

e que o convívio comigo mesmo

se torne ao menos suportável

que o espelho reflita em meu rosto

num doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância

porque metade de mim

é a lembrança do que fui a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

pra me fazer aquietar o espírito

e que o teu silêncio me fale cada vez mais

porque metade de mim

é abrigo mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta

mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar

porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

porque metade de mim

é platéiae a outra metade é canção.



"E que a minha loucura seja perdoada

porque metade de mim é amor

e a outra metade também."



Oswaldo Montenegro

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